A BONITA VOCAÇÃO DO IRMÃO REDENTORISTA

16/07/2010 09:53

    As duas semanas de estudos sobre a história da CSsR com o Ir. Maciel, C.Ss.R. (12 a16 e 26 a 30 de abril de 2010), levaram-me a refletir sobre o papel dos Redentoristas no Brasil. Suas dificuldades e vitórias. Percebi o quanto é importante saber a história, pois ela nos inspira muito, parece que as coisas se repetem, só muda de “cor”.Uma das inspirações foi a possibilidade de voltar a termos irmãos com ofícios: professores, advogados, engenheiros, médicos, psicólogos... O próprio Santo Afonso confiou aos Irmãos algumas atividades literárias, negócios... de acordo com a aptidão de cada um. Além disso, escreveu regras de aritmética para instruir alguns irmãos, contrariando assim as “idéias falcoianas” que proibiam os irmãos de ler e escrever, fazendo-os servos de padres.

    Em 1857, Dom Viçoso, na época bispo de Mariana – MG, pediu aos Redentoristas que envie missionários ao Brasil e especifica a necessidade de Irmãos com oficio: “Rogo e suplico-vos pois, que, movidos de piedade pelas minhas ovelhas, me envieis pelo menos seis sacerdotes e quatro irmãos coadjutores, e entre estes um que saiba o oficio de agricultor”(Mariana, 2 de Abril de 1857).  Na época as famílias necessitavam aprender a cultivar a terra. Irmãos agricultores seriam muito úteis para ajudar essas famílias a colocarem alimento dentro de casa. Esses tipos de conhecimentos fizeram com que as pessoas acorressem às casas Redentoristas em busca de ajuda. Era uma boa oportunidade para também evangelizar, além de ganhar o respeito e o carinho do povo. “A parte, o que exige de um irmão aqui, é inacreditável; cada irmão deveria conhecer todos os ofícios para trabalhar na horta, no campo, na casa e outros afazeres e em cada um deles ser um mestre, conforme a opinião do povo.” Esse é um trecho da carta do Pe. João Mata Spaeth descrevendo a realidade de Goiás ao provincial Pe. Antônio Schoeff em 31 de janeiro de 1895 na cidade de Campininhas. Na mesma cidade, em 31 de janeiro de 1895 o padre Gebardo Wirggamann pediu ao provincial em carta: “Seria bom se viesse um irmão entalhador de imagens. Aqui não há crucifixos nas igrejas e nelas as imagens são feias.” Havia irmãos com grandes talentos, este era um grande auxilio na própria missão. Pois bonitas imagens fazem o povo rezar melhor, as belas imagens, pinturas, esculturas dentro das igrejas fazem o povo entrar no mistério, só pelo fato de contemplá-las. Era um bom recurso para um povo que em sua maioria era analfabeto. Percebemos então que a congregação tem duas pernas: Os padres e os Irmãos. Os Irmãos estão mais livres para ir ao encontro das necessidades do povo e da comunidade, com uma pastoral extraordinária.

    É claro que não nos consagramos para fazer coisas e sim para amar a Deus e aos irmãos radicalmente. Mas acredito que os talentos que temos e que podemos cultivar, são para colocar em comum, e ajudar o povo, a congregação, a Igreja. A missão dos padres exige um estudo especifico, e uma pastoral especifica. Mas os Irmãos são mais livres, e podem multiplicar os talentos da congregação. Seria então muito interessante deixar com que os Irmãos e os candidatos optassem por um caminho que eles se sintam mais a vontade, onde achassem que seria mais realizados e mais felizes.  “A cada um é dada a manifestação do espírito para a utilidade de todos” (1Cor 12, 7). Para que isso aconteça, acredito que a formação dos candidatos a Irmão, deveria ser um pouco diferente. O postulantado deveria ser separado. Enquanto os coristas estudariam filosofia, os candidatos a irmão estudariam a história da congregação e o papel do irmão nela. Assim ganhariam vínculo, sentiriam a importância de sua vocação, e sonhariam com projetos dentro da congregação. Juntamente com essa formação, fariam um discernimento de suas aptidões e desejos, para escolherem um caminho de formação profissional para realizá-la depois do noviciado. Além de trabalhos na formação humana e participação na pastoral local e nas missões populares.

    Outra realidade que está crescendo em nosso meio, são os missionários leigos, que fazem congregação conosco. Mas é visível o quanto nós temos que caminhar nessa parceria. Uma proposta a se pensar seria investir na formação profissional de leigos desejosos de participar da missão. Esta talvez seria uma maneira de apoiar essa nossa “perna” que ainda se encontra ferida, por causa de caminhos tomados no passado que sufocaram essa bonita vocação.

     Todo tipo de trabalho realizado por um redentorista, seja do mais simples ao mais complexo, seja cuidando de uma horta ou seja pregando uma missão, tem o mesmo valor missionário. É como diz a constituição 35: “por esse motivo, na comunidade todos os confrades são fundamentalmente iguais, participam cada um a seu modo, pela co-responsabilidade, na vida e na realização da missão que professam.” Vemos esse mesmo espírito em 1Cor 12, 12: “Assim como o corpo é uma unidade e tem muitos membros, mas todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, formam um só corpo” . Ninguém precisa se sentir menor ou maior pelo que faz. O importante é multiplicar os talentos que recebemos de Deus. Aliás quando estamos realizando aquilo que escolhemos por livre vontade, não temos motivos para ter inveja ou nos sentirmos menores do que os outros.

      Como disse no inicio, essa reflexão surgiu do curso com o Irmão Maciel, mas também de algumas colocações que o Irmão Viveiros fez no curso ministrado por ele no inicio do ano. Já que estamos em tempos de reestruturação, que nos pede uma volta à origem, porque não repensar na vocação e na formação dos Irmãos?                       

Fagner Dalbem Mapa,

Noviço Redentorista da Província do Rio

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São Geraldo Majella, missionário Redentorista