Sabor da Fé

25/04/2011 23:51

Fr. Fagner Dalbem

(Província do Rio de Janeiro)         

    Deus na sua bondade revela – se a si mesmo e convida o homem à comunhão com ele. Sua verdade nos é revelada na história da salvação humana, que começa com os nossos primeiros pais, e é dada plenamente em Jesus Cristo. Deus fala ao ser humano como amigo, não só em palavras, mas em gestos, acontecimentos. Jesus é a plenitude da revelação. A nossa resposta é a fé, é a maneira que temos para dar ouvidos a um Deus que fala conosco.[1]

            Essa revelação salvífica de Deus não acontece de forma mágica mas através da experiência humana, ou seja, dentro dos “limites humanos”. Por exemplo: para que alguém possa saber o sabor de algo é preciso antes experimentar. Ninguém pode fazê-lo por nós. Se quisermos conhecer o sabor de uma maçã, por exemplo, não adianta perguntar a alguém, pois por mais que o descreva, não conseguiríamos sentir. Até porque é impossível expressar adequadamente o que experimentamos. Experiência é diferente de conhecimento, pois as informações não são experiências, embora sejam necessárias para se chegar a ela. “Experimentar tem um sentido mais pleno e vibrante do que ‘conhecer’, que tende a restringir as coisas à cognição” [2].

            A própria vida é feita de experiências, “somos o que experimentamos”. O amor, a dor, a alegria, a culpa, o medo, enfim, todas as realidades do cotidiano fazem de “nós o que somos hoje”. Assim também acontece com a fé: salvação e revelação não acontecem fora da experiência humana. A experiência de Deus é a relação que temos com Ele, nós o “experimentamos”. Toda experiência transmite a graça reveladora e salvífica de Deus, seja no comum e corriqueiro da vida, como nos exemplos que Jesus usava em suas parábolas; ou em formas extraordinárias como a sua ressurreição.

            A revelação pode se da nas experiências “positivas”, como a libertação do Egito, ou “negativas”, como o exílio babilônico ou o pecado. O teólogo Gerald O’Collins, diz que até “o mal, incluindo o pecado, pode vir a ser o meio pelo qual se dá a revelação divina”[3]. As experiências passadas, presentes ou futuras todas comunicam a revelação salvífica de Deus. Ele é o “alfa e o ômega”, “que é que era e que vem” (Ap 1,8). Além de acontecer a qualquer momento, não existe também um local exato ou religião certa para que se possa ter uma experiência com Deus.[4]

            Quando se fala da relação de Deus com a humanidade está implícita a questão histórica, pois é o meio por excelência pelo qual a autocomunicação divina entrou e continua a entrar na realidade humana. O cristianismo é uma religião histórica, é a expressão de uma experiência feita na história, chamada na igreja de “Tradição”. A própria Sagrada Escritura nasce da Tradição das comunidades que já vivenciavam a fé. A Escritura nasce para que se tenha uma referência, um “Canon”. Ela interpreta a Tradição e a Tradição interpreta a escritura. A fonte é uma só, é Deus que se revela nestes dois rostos.

            Mesmo que alguém chegue a ser um grande teórico sobre Deus não significa que ele tenha uma grande fé, ele pode até ser um ateu se não estiver estabelecido uma experiência com Ele. Pois “Jesus Cristo”, acaba sendo visto como uma idéia, sem o pressuposto da relação. Quando alguém se diz cristão, ou seja, que segue a Cristo, deve dizê-lo com base na experiência que tem com ele, e não porque é adepto a “ideologia” chamada cristã. 

 

 



[1] cf. CONCÍLIO VATICANO 2O, constituição Dei Verbum

[2] O’COLLINS, Gerald. Teologia fundamental. São Paulo: Loyola, 1991. p.120

[3] O’COLLINS,1991, p. 86

[4] Cf. ALVES, César. Apostila de Teologia Fundamental. 2011