Fagner Dalbem: "Liturgia: um plano de Salvação"

Fagner Dalbem: "Liturgia: um plano de Salvação"

liturgia é uma continuação da encarnação do Senhor, ou seja, tem o objetivo de “unir o Homem a Deus e Deus aos homens.”: Deus se dá a nós no Cristo,  nos santifica pelo Espírito, e assim nos dá a condição para cultuá-Lo.[1] É a história da salvação, pois a liturgia é um movimento da ação salvífica de Deus. Primeiro Deus se dirige a nós, a iniciativa é Dele, depois podemos nos dirigir a Ele. A mediação é feita pelo único mediador que é Cristo. (cf. 1Tm).

A Liturgia é a obra da salvação pré-anunciada por Deus e que se cumpre em Cristo em sua ação salvífica, continua na Igreja e se realiza em sua liturgia por causa da presença de Cristo na liturgia, que é a antecipação da liturgia celeste.[2]

 

            Na liturgia temos a presença “efetiva de Cristo”, pois nela “se realiza o Seu culto pessoal, que por comunicação se torna culto da igreja.” É Jesus quem glorifica o Pai e nós participamos da glorificação através da liturgia: Assim sendo, o culto sacerdotal de Cristo compreende a santidade do homem que se dá na união com Cristo: “por meio dos sacramentos da igreja, isto é, por meio dos ritos que realizam a imagem ou símbolo do próprio Cristo santificador.”[3] A liturgia, precede a Igreja, pois antes de ser uma ação dela é “a ação de Cristo na Igreja”. A igreja só existe por causa dessa ação de Cristo, que presta culto ao Pai e que pelos sacramentos e por obra do Espírito Santo nos une neste culto.[4]

            A teologia da liturgia da Sacrosanctum Concilium (SC)[5], parte da perspectiva teológica bíblica tendo como fundamento o plano de salvação que foi concluído em Cristo (cf. SC 5-7): “em Cristo ocorreu a perfeita aplacação da nossa reconciliação e foi constituída entre nós a plenitude do culto divino”[6]. Essas duas realizações constituem o mistério pascal, e agora é continuada pelos apóstolos e seus sucesseros através dos sacramentos auxiliados pelo Espírito Santo (cf. SC 5). “Na liturgia se realiza o fruto da nossa redenção” (SC 2).

O mesmo culto que cristo prestou ao Pai na sua vida por força do sinal simbólico que a liturgia transformada em ‘mistério do culto de Cristo’, se reveste de natureza e função sacramentais. Os seus ritos simbólicos são na verdade, aquilo que para Cristo era a sua humanidade, no sentido de que o culto prestado por Cristo ao Pai imediatamente na sua humanidade, agora, com a mediação do rito, é comunicação a toda a humanidade redimida (igreja) para que a Ele se associe.[7]

           

            A SC afirma portanto,  que “Cristo está sempre presente na sua igreja, especialmente nas ações litúrgicas” (SC 7). E que “Cristo associa sempre a si a Igreja, sua esposa muito amada, a qual invoca o seu Senhor e por meio dele rende culto ao Eterno Pai” (SC 7). A liturgia é do Cristo total, que significa o Cristo cabeça e nós os membros do seu corpo. Nós somos os membros santificados, como também somos esposa (Ap 21,2.5;22,17) pois estamos diante de Cristo, face a Cristo por obra do Espírito Santo. Cristo não realiza seu ministério sozinho, a sua obra sacerdotal é por participação obra sacerdotal do seu corpo: da Igreja. A liturgia é seu modo de exercer essa obra sacerdotal através dos ritos. Isso significa que a obra de salvação “se cumpre e se realiza no mundo mediante a igreja”.[8]

            A liturgia se realiza por sinais sensíveis. A ação litúrgica não se esgota no sensível, mas se realiza através dos sinais sensíveis. É uma necessidade antropológica, cristológica e eclesiológica. Antropológica: porque no ser humano (corpo e espírito), nada vem ao intelecto sem passar pelo sentido, assim como a ação de Deus. Cristológico: porque nossa fé vem do verbo encarnado. Eclesiológica: porque os sacramentos tem sua raiz na Igreja que é visível e invisível, pois não é só uma sociedade beneficente como uma “ONG” mas tem o seu mistério divino.[9]

            A liturgia que celebramos é também a promessa da plenitude escatológica, mas já é também uma realização do Cristo tudo em todos. Já temos esse saborear antecipadamente da liturgia celeste que é a conclusão da história da salvação. Esta termina quando chega plenitude escatológica. A nossa plenificação é a comunhão com Deus, que já acontece na liturgia terrestre, mas não precisaremos mais dos sacramentos (cf. SC 8).

            A vida cristã é o culto a Deus, a liturgia é expressão e alimento para a vida cristã. A liturgia não é a exterioridade do rito, mas é o sinal sensível do “múnus sacerdotal” do cristo. É o ponto culminante da vida cristã, pois não é inseparável do tríplice múnus. É a celebração daquilo que é a nossa vida, é o lugar da mais alta eficácia da Igreja, é o cume e a meta de toda a Igreja (cf. SC 7). “... a liturgia da igreja se situa toda na linha e na perspectiva pascal e constitui o ultimo momento da história da salvação.”[10]

 

Referencias Bibliográficas

 

SARTORE, Domenico. Liturgia. IN:_______. Dicionário de Liturgia. São Paulo: Paulinas, 1992. (p. 638 – 651)

 

Concilio Vaticano II. A sagrada liturgia: constituicao Sacrosanctum Concilium. 2. ed. Petropolis: Vozes, 1989.

 

Apontamento do professor Taborda (Teologia – FAJE)

 


[1] Cf. SARTORE, Domenico. Liturgia. IN:_______. Dicionário de Liturgia. São Paulo: Paulinas, 1992. (p. 642)

[2] Apontamento do professor Taborda na aula do dia 08/08/2011 (Teologia - FAJE)

[3] Ibid p. 641

[4] Cf. Ibid p. 642

[5] Concilio Vaticano II. A sagrada liturgia: constituicao Sacrosanctum Concilium. 2. ed. Petropolis: Vozes, 1989.

[6] Sacramentário de Verona Leoniano. ed. C. Mohlberg, Roma, 1956, n.° 1265, p. 162.

[7] SARTORE, Dicionário de liturgia, p. 644

[8] Cf. SARTORE, Dicionário de liturgia, p. 645

[9] Apontamento do professor Taborda na aula do dia 17/08/2011 (Teologia –FAJE)

[10] Cf. SARTORE, Dicionário de liturgia, p. 644