Abaixo, leia a autobiografia do Ir. Urbano:
No dia 10 de novembro, celebrou seus 85 anos.
Ir. Urbano (Theodorus Augustinus) Döderlein de Win, CSsR
I. A formação e os 20 anos como carpinteiro
Foi no dia 17 de setembro de 1945 que entrei na Congregação, logo depois do fim da 2a guerra mundial. O meu pai tinha uma moto e pelo fato que os trens e ônibus ainda não funcionavam normalmente, ele me levava na garupa. Chegando na porta do nosso convento em Roosendaal, o irmão porteiro não sabia de nada. Pedimos para entrar, mas ele tinha de se informar com os superiores para confirmar a nossa vinda. Em pouco tempo se resolveu isso. Depois de um bom almoço, o meu pai voltou para casa e eu fiquei.
Iniciamos com 04 irmãos e 02 fraters o noviciado em Den Bosch no dia 17 de março de 1946. Só um irmão voltou para casa.
Com os 02 fraters e 02 irmãos fiz em 17 de março de 1947 o meu voto temporário na Congregação. Três anos e meio trabalhei no seminário menor, que nos primeiros anos estava ainda em Glaanderbrug, porque o “NEBO” em Nijmegen estava em recuperação dos estragos da guerra. Só faltava o meio ano do 2º noviciado em preparação dos votos perpétuos. Fiz isso também em Den Bosch e no dia 15 de março de 1951 fiz os votos perpétuos. Assim terminei a minha formação inicial.
Em seguida fui nomeado para o nosso convento em Roermond. Três anos da minha infância passei na sombra deste convento e três outros anos nós moramos num lugarzinho bem perto chamado Maasniel. Foi um reencontro agradável com o passado.
BRASIL
Poucos meses depois fui nomeado para o Brasil. Grande era a minha alegria, porque isso foi de fato o que expressei como o meu sonho quando entrei na Congregação. A nova Vice-Província no Nordeste do Brasil precisava de um carpinteiro e eu tinha cursado durante dois anos e meio essa profissão.Com mais seis redentoristas e um seminarista viajamos de navio para o Brasil. Desembarcamos no dia 14 de agosto de 1951 no Rio de Janeiro, depois de uma viagem de vinte dias de navio. Fiquei 15 dias no nosso convento no Rio. Depois, um outro navio me levou para Recife, onde o Vice-Provincial Pe. Carlos Donker e Pe. João van Gassel me esperavam. Junto comigo viajaram muitas caixas de bagagem e para tirar tudo da alfândega era uma luta de dias e às vezes semanas. Mas, no fim deu tudo certo.
GARANHUNS
A viagem de Recife para Garanhuns começou bem cedo, às 6h da manhã. Porém, no meio do caminho o motorista do onibus descobriu que o carro não tinha freios. Assim, voltamos para Recife onde tomamos o trem às 11h da manhã. Essa viagem era muito boa e assim, chegamos às 10h da noite em Garanhuns.
Fiquei morando no Seminário Diocesano por que o nosso convento ainda não estava pronto. Depois de comprar as máquinas, instalamos a carpintaria no porão do convento e iniciamos a fabricação das portas, janelas, telhado, móveis, etc. Desde o início trabalhei com funcionários que tanto ajudava no trabalho como eram nossos professores, nos ensinado português. Também ajudamos na construção e instalação do Seminário Menor que foi iniciado bem nos primeiros anos. Foi em Garanhuns que pré-fabricamos a estrutura de madeira para um galpão de 40x18 m que ia servir como serraria em Campina Grande. Transportamos este material para lá e montamos no local. Como último trabalho em Garanhuns deixamos a igreja redonda com a sua estrutura de colunas de concreto levantadas, unidas por um anel em cima. Com isso, encerramos o nosso trabalho em Garanhuns. Era 1961.
CAMPINA GRANDE
Mudamos e instalamos as máquinas em Campina Grande e fechamos a serraria ao redor. Compramos, também, um engenho para serrar torras de madeira até 40x40 cm de largura e altura. Terminamos o convento primeiro e depois, o seminário e a casa das irmãs. Foi, também, em Campina Grande que fizemos todos os trabalhos de madeira para o convento em Recife. Até para as irmãs de Santa Rita e Esperança fizemos encomendas. Dez anos depois, porém, a Congregação não tinha mais trabalho para mim. Deram-me licença de procurar um trabalho próprio. Era em 1970.
II. O Projeto Habitacional (1970 a 1980)
Introdução
Durante vinte anos atuei como carpinteiro na Vice-Província do Recife. Não tendo mais nada a fazer, fiquei livre para procurar trabalho por minha conta. Construímos tantos prédios bons para a Congregação, enquanto os pobres continuaram morando em seus casebres miseráveis. Por que não tentar ajudar o povo a construir as suas casas? Mas, como eles podiam pagar se mal tinham dinheiro para comer? A Congregação também não podia custear casas populares. A solução deveria ser encontrada a partir das pessoas interessadas.
O início
Depois de uma pesquisa, descobrimos que o problema não era tanto a construção das casas em si, mas adquirir os tijolos para fazer as casas. A partir desta constatação iniciamos um trabalho que visava a fabricação dos tijolos de cimento. Iniciamos com formas de madeira para um tijolo só. Depois, fizemos formas de madeira para 04 ou 05 tijolos de uma vez. E no fim, fizemos uma máquina que facilitava o trabalho e melhorava a qualidade dos tijolos.
O financiamento
Mas, quem pagaria o cimento e a areia? O projeto deveria ser auto-financiável. Combinamos assim: cada um faria os tijolos para si mesmo, mas também faria tijolos extras para pagar o cimento e a areia. A venda desses tijolos extras nos dava o dinheiro para comprar novamente cimento e areia. Pelo fato do povo concordar com essas condições e como o número de pessoas que queriam fazer tijolos aumentava cada vez mais, resolvemos ampliar os meios e o espaço.
As enchentes
No ano de 1972 choveu muito no Nordeste e Norte do Brasil. Os rios transbordaram e as águas arrastaram casas em muitas cidades. Era quase uma calamidade geral e as entidades nacionais e internacionais se esforçavam para ajudar os desabrigados. Uma dessas entidades (Oxfam) nos convidou para fabricar 60 máquinas de tijolos para colocar nas áreas atingidas. Aceitamos o convite, fizemos as máquinas, levamos para os lugares e ensinamos as pessoas a fabricar os tijolos.
Durante muitos anos acompanhamos todos estes projetos. Como funcionava em Campina Grande, (onde podíamos) introduzimos o sistema de auto-financiamento. Muitos projetos eram, porém emergenciais, ou seja, terminaram depois da reconstrução das casas danificadas.
Guatemala
Em 1974 houve um terremoto muito forte na Guatemala, na América Central. O Oxfam Internacional, que tanto atuava no Brasil, como na América Central, nos pediu 06 máquinas para Guatemala a fim de ajudar na reconstrução daquele país. Mandamos as máquinas e passei quatro meses lá aprendendo espanhol e ensinando a população a fazer tijolos de cimento. Inclusive, por Guatemala ser um país com 36 vulcões, a lava que vem de dentro da terra dava um tijolo leve e forte. Também conheci um pouco da cultura dos Maias e visitei templos e cidades antigas.
Outras experiências
Cobertura redonda
Na intenção de economizar madeiramento e telhas nos telhados, atuamos em fazer telhados redondos. Um cinto de concreto e ferro em cima das paredes formava a base dos arcos. Também fizemos bicos ao lado do telhado para captar a água de chuva. Um trabalho todo especial era o isolamento térmico para evitar o calor e garantir a impermeabilidade evitando os vazamentos na chuva. Não conseguimos popularizar essa técnica. Fizemos apenas uma meia dúzia de casas experimentais.
Paredes de solo-cimento
Outra técnica, era a socagem das paredes entre duas tábuas. Misturava-se a terra do lugar com cimento e água. Essa massa, meio seca, se socava entre as duas tábuas que ia de uma coluna vertical para outra. Tirando depois as tábuas e passando uma esponja de espuma, a parede já ficava rebocada. A família fazendo isso economizava tijolos e o trabalho do pedreiro no levantamento.
O fim do projeto
Mas, os tempos mudavam. O arrocho salarial no tempo da ditadura militar e a inflação de 50% por mês empobreceram a população. A preocupação era a sobrevivência. Em certo momento estávamos com 33.000 tijolos estocados e por falta de dinheiro, ninguém podia comprar. Assim também não recebíamos dinheiro para a compra de cimento e areia. Em conseqüência disso paramos esse trabalho que deu uma moradia digna as centenas de famílias.
III. O PATAC (Programa de Aplicação de Técnicas Adaptadas às Comunidades)
Introdução
O projeto habitacional, que descrevemos no item anterior, nos ensinou que, facilitando a técnica, o povo mesmo tem condição de se promover e melhorar de vida. Refletindo sobre o aumento populacional das cidades, se descobriu que o povo foge do campo porque as terras são pobres, cheio de erosões e castigadas pela falta e irregularidade das chuvas. São famosas as secas em que milhares de cabeças de gado morreram por falta de comida e bebida. Muitas famílias tinham de emigrar por falta de meios de sobreviver sem a água. Será que podíamos elaborar técnicas e maneiras de ajudar essas pessoas nessas situações precárias?
Combate
Pelo fato de 90% das terras no Nordeste terem uma ondulação regular ao até acentuada e as poucas chuvas podem ser fortes, o aparecimento de voçorocas é freqüente. A técnica de fazer leirões de cima para baixo acelera ainda este processo. Assim, pode se perder muita terra em pouco tempo. A erosão também arrasta o material orgânico da terra, o que provoca um empobrecimento constante das mesmas. Cavando os leirões, ou cortando as terras em curvas de nível, evita este desgaste. Quando se planta linhas de capim ou agave, ou também, fazendo paredes de pedras em curvas de nível, se cria barreiras que impossibilitam a saída da terra, criando terraços. Água que está num plano horizontal não corre e penetra e se armazena na terra.
Recuperação das terras esgotadas
Para evitar o empobrecimento do solo temos que combater a queimada das terras. Com as queimadas, tanto se perde o material orgânico como se mata a vida do solo.
A prática de fazer composto de material orgânico permite uma adubação local, ou seja, na cova.
A prática de cobertura morta, tanto aumenta o teor orgânico da terra como evita a queimada da terra pelo sol, conserva a umidade no solo.
A rotação das lavouras e o repouso das terras também ajudam a recuperar as terras.
A convivência com a seca
A incerteza das chuvas é uma das causas da pobreza no Nordeste. Nunca se tem certeza das chuvas. Há anos em que os agricultores plantam três ou quatro vezes porque houve falta de chuva depois do semeio. Cobrir a terra com material orgânico evita a perda da umidade no solo de maneira que a raiz dispõe dela por mais tempo.
A escolha das plantas mais tolerantes às secas pode melhorar a sobrevivência das plantas apesar de que isso é contra as plantações das culturas tradicionais.
Sementes mais precoces, de maneira que se diminui o ciclo da lavoura, ajuda também.
A construção de barragens de porte médio e a cavação de barreiros podem dar água para o homem e o animal beber. Também a construção de cisternas para captar as águas dos telhados alivia a situação. Porém, todos estes meios dependem da chuva. Se a chuva falhar, nada disso se aproveita. Por isso, muitas pessoas consideram o semi-árido mais uma terra para a criação de que para a agricultura. O PATAC estimulou sempre a criação de pequenos animais, principalmente a criação de cabras, ovelhas e a criação de abelhas.
As publicações do PATAC
Todas essas técnicas foram experimentadas na nossa terra ao redor da sede e divulgadas nas comunidades com que tínhamos contatos. Para alcançar um público maior, resolvemos descrever essas técnicas em livrinhos bem práticos e cheios de desenhos para espalhar no país todo. Com isso, o PATAC passou a dar uma orientação em técnicas adaptadas tanto no Brasil como fora do país.
Uma outra iniciativa do PATAC era a elaboração de um calendário anual e um Almanaque do Pequeno Produtor. Um ano lançamos o calendário e outro ano o almanaque e assim por diante. Também essas publicações aumentavam o conhecimento da nossa entidade no cenário das Organizações Não Governamentais no país.
IV. A cavação dos poços
O subsolo nordestino
O subsolo do Nordeste está cheio de veios de água em várias direções. Pode-se dizer que o nordestino morre de sede vivendo em cima de uma rede de canais de água subterrâneo. Aí pode estar uma solução para o Nordeste. Essa água não depende da chuva e não pode evaporar.
No trabalho dos últimos anos neste ramo, destacamos 03 fases distintas a saber:
- Detectar estes veios de água
- A cavação do poço da superfície da terra até a água
- A retirada e uso da água
Detectar veios de água
Há muitos anos,encontrei um missionário com cabelos brancos, da Indonésia. No curso que seguimos, ele demonstrou duas antenas que se manifestavam nas suas mãos quando ele passava em cima de veio de água. Testei essa técnica e descobri que eu tinha também essa sensibilidade. Por ocupações administrativas não cheguei a praticar essa técnica que chamamos de hidroestegia.
Num curso no IRPPA em Juazeiro da Bahia ouvi falar sobre treinamentos dados aos agricultores para detectar veios de água. Solicitei uma vaga e consegui. Este treinamento me ajudou a aprofundar a técnica aplicando e praticando com mais dois colegas do curso aqui na Paraíba. Graças a Deus, nunca falhamos em encontrar o ponto certo nas dezenas de poços que já foram marcados.
A cavação do poço
Um poço amazônico é cavado a mão e tem um diâmetro 01 até 2,5 m. Em cima se faz uma boca de tijolos ou cimento. No último caso usa-se uma forma de ferro que faz anéis de 1,50 m de diâmetro x 0,50 m de altura e 6 cm de grossura. Estes anéis se fazem no lugar exato do cruzamento de 02 veios, tirando a terra por dentro de maneira que o anel desce.
Na cavação, o cavador pode encontrar areia, barro, pedras soltas, pedras moles e até rochas duras com 02 a 20 m de altura. O trabalho de cavar um poço assim com muitas pedras, rochas custa anos e é muito pesado.
A tirada e uso da água
Uma comunidade que tem um poço com água tem vida. As famílias não necessitam mais abandonar a sua casa, indo para longe. Os animais não vão mais morrer de sede. Os políticos que colocaram água com carros-pipa em troca de votos perdem a sua clientela. A comunidade conquista novamente a sua independência.
Mas a água também serve para fruteiras e alguns canteiros de verdura. Com água se faz alimentos.
A modernização da cavação dos poços
Vendo as dificuldades com a escavação dos poços, principalmente quando tem uma laje maciça de granito, e os anos que essas pessoas gastam para afinal chegar ao precioso líquido, nos levou a confeccionar um maquinário que facilita e acelera o trabalho.
No momento apropriado recebemos a colaboração de dois voluntários da Alemanha que custeavam a compra de um motor a diesel, compressor, gerador de luz, uma ponte de ferro em cima do poço e um guincho que tira os baldes de material de baixo do poço para cima.
Os poços que fizemos estão no brejo onde a terra tem mais condições. Quem incentivou e custeou este trabalho era o Padre Cristiano, um alemão pertencendo à diocese de Guarabira. Quem trabalhava com o nosso compressor era Zezinho de Dona Ignês, que fazia parte dos hidroestesistas na Paraíba. Quando o Padre Cristiano se mudou para a diocese de Floresta-PE, secou a fonte de dinheiro e tínhamos de parar essa atividade.
Cavar poços nas terras cristalinas do Agreste, Cariri, Seridó ou no Sertão é um trabalho muito custoso. A terra tem muitas pedras e a água se encontra numa grande
profundidade. E para piorar a situação: a água, finalmente encontrada é muitas vezes salobra até salgada.
A mudança do trabalho dos poços para Triunfo – PE
Com dois compressores parados, vendemos o melhor a uma entidade em Triunfo – PE, “ADASSU”. Durante meio ano visitamos essa entidade para passar para eles todas as técnicas adqueridas no nosso trabalho em poços. Orientamos eles também como fazer o material explosivo e como usar para quebrar pedras. Graças a Deus encontramos um pessoal que com muito cuidado estão agindo. Em pouco tempo furaram um bom número de poços. As pedras de lá são de apenas poucos metros de altura e a água está perto e é abundante. Assim o nosso esforço não foi em vão apesar de que na nossa região não podíamos usar.
A minha retirada do PATAC
Os anos passavam e a minha idade avançava. Eu ia completar 65 anos, idade de aposentadoria. Vinte e três anos fiquei a frente do projeto habitacional e depois no PATAC, com todas as complicações que enfrentamos.
No mesmo tempo, a Vice-Província se preparava para passar da Província Mãe Holanda para a Província Mãe de São Paulo. Por isso o projeto educacional do Colégio Redentorista e a obra promocional PATAC deveriam passar para as mãos de Associações formadas pelos próprios funcionários. No caso do PATAC isso se realizou num processo de anos de preparação.
Durante as minhas férias na Holanda, no ano de 1992, realizou-se essa transferência.
A nova administração do PATAC
A primeira preocupação do PATAC era fazer uma associação. Eles fizeram os estatutos e legalizaram a nova entidade juridicamente. Em seguida eles procuraram um terreno para construir a sua sede própria. Acharam um terreno em Puxinanã e adaptaram a casa existente como sede. Na saída do PATAC da nossa serraria, a Congregação resolveu utilizar o espaço como Centro de Treinamentos e a formação dos nossos postulantes. Assim também nós desocupamos o lugar e ocupamos o antigo galinheiro que está mais perto do Colégio.
O trabalho com as cisternas.
Mesmo não sendo mais o coordenador do PATAC, continuei trabalhando na parte técnica. Numa viagem para Bahia encontramos uma entidade que tinha um projeto de fazer cisternas redondas para captar e quardar a água dos telhados. Visitamos este projeto, tiramos retratos e anotamos os dados. Voltando para Paraíba fizemos no nosso terreno a primeira cisterna redonda feita na Paraíba. Pela simplicidade de fazer essas cisternas, testamos essa técnica numa comunidade rural chamada Caiçara no município de Soledade. A reação da comunidade era muito favorável e de 1993 até 2003, o PATAC ensinou milhares de pedreiros a construir cisternas, do litoral até os limites do Estado, Cajazeiros, Sousa, etc. Os recursos financeiros vieram pelos projetos que o PATAC fez tanto para as entidades estrangeiras que financiam projetos como do Estado da Paraíba mesmo. Criou-se uma federação de entidades e pessoas que atuam para promover a “Convivência com a Seca” (Associação Semi - Árida – ASA). Essa entidade pleiteou ajuda ao Governo Federal que se comprometeu de financiar um milhão de cisternas no Semi-Árido do Brasil. Este trabalho está ainda em pleno andamento melhorando visivelmente o bem estar do homem do campo de Nordeste.
A UTOPIA
O trabalho das cisternas necessitava um conjunto de formas para fazer as peças de concreto como, as placas, a viga, a coberta, a tampa pequena, etc. Pelo fato que nós (a Congregação) ficamos com todas as máquinas para trabalhar em ferro, fizemos essas formas na nossa oficina. Foram centenas de conjuntos para ser comprados e usados pelas comunidades que tiveram suas solicitações aprovadas pelo Estado ou pelas entidades financeiras.
Sentimos porém a necessidade de nos estabelecer como entidade própria. Escolhemos o nome UTOPIA o que significa “Unidade Técnica Objetivando Práticas Inovadoras e Adaptadas”. Pertencemos juridicamente à Congregação Redentorista Nordestina que é uma entidade filantrópica. Nessa oficina fabricamos também formas para fazer anéis de concreto de 1.50 e 3 metros de diâmetro, máquinas para fazer tela de arame, aparelhos de cortar palma, tampas de alumínio para as cisternas, vários tipos de bombas para elevar água, prensas para tirar óleo de sementes, etc. Com o apurado destes trabalhos conseguimos custear outras iniciativas ou pesquisas.
A recuperação dos prédios
No terreno em que atuamos tinhamos bastante prédios que serviram antigamente como estábulo de vacas, chiqueiro para porcos, galinheiros para galinhas de postura, etc. Estes prédios foram construídos pelos irmãos Vito e Damião. Depois da volta deles para Holanda, nós do PATAC usamos estes prédios para criar galinhas de postura e corte, porcos, patos e minhocas. Isso funcionou uns 6 a 8 anos com muito êxito para a população que comprava os produtos. Por causa da entrega do PATAC aos funcionários encerramos essas atividades.
Não usando mais estes prédios, os telhados começaram a cair. Tivermos de tirar as telhas para pelo menos salvar-las. O Irmão Mário, que fez o centro de treinamento da nossa antiga serraria, reformou também o antigo armazém e vacaria do Irmão Damião. O Irmão Gil transformou a área de um dos galinheiros em estacionamento para carros. E a gente, querendo ter cobertas para captar água, recuperamos o prédio onde o Irmão Vitor quardava os ovos. Também transformamos o antigo chiqueiro num armazém onde colocamos tudo que tem de ser quardado. O galinheiro grande derrubamos todo, levantamos 4 paredes, cobrimos com plástico em cima de arcos redondos e colocamos bicos para captar a água. Para colocar a água deste telhado grande fizemos uma cisterna de 180 mil litros.
Os canteiros econômicos em água
Um dos nossos sonhos é produzir verduras, flores e plantas medicinais, usando pouca água.
Nivelando uma área, colocando tijolos de oito furos ao redor, colocamos uma lona plástica dentro dos tijolos e em cima do plástico um cano furado com nos seus terminais um joelho e uns pedacinhos de cano vertical para colocar a água. Enchendo com terra boa e cobrindo a superfície com uma coberta morta de palha ou capin cortado, a humidade fica bem quardada, necessitando apenas algumas latas de água por semana.
A Estufa
Pelo fato que o plástico que está cobrindo o galpão grande é transparente, construímos no piso 25 canteiros econômicos em água de oito metros de comprimento por um metro e vinte de largura. Lá também separamos um espaço em que produzimos as mudas. Essas mudas são semeadas num tijolinho de composto de cinco centímetros cúbicos. Fizemos uma forma que faz seis tijolinhos de vez. Grande é o nosso esforço para combater as pragas. Não usamos agrotóxicos nem adubo químico. A pior praga é a mosca branca cujos ovos dão uma pulgão que deforma a folha toda, principalmente dos couves e repolhos.
Publicações
Retomamos o costume de fazer publicações a partir da nossa prática e idéias. O primeiro número se chama “Técnicas de captação e uso da água no Semi-Árido Brasileiro”. Tratamos nela a confecção de cisternas de placas, a captação e uso das águas em diversas situações, a reciclagem e uso das águas servidas, o combate à evaporação e o uso da água para fazer um viveiro de mudas.
O segundo número (Volume dois) tem o mesmo título, com o subtítulo de “Canteiros Econômicos em água “.Numa maneira bem extenso e a partir de uma prática de alguns anos explicamos como produzir verduras com pouca água, uma vez que a falta de água é algo geral no Semi-Árido.
Certamente vamos fazer ainda mais publicações dependendo da nossa experiência na prática. Mas isso é para uma próxima continuidade da história.
Obs.: Durante todos estes anos de trabalho e até nos dias de hoje o Ir. Urbano continua integrando a comunidade de Campina Grande – PB.