CAPÍTULO I 

A OBRA MISSIONÁRIA DA CONGREGAÇÃO

Seção primeira

A EVANGELIZAÇÃO DOS POBRES

3.      Os homens mais abandonados, aos quais, de modo especial, é enviada a Congregação, são os que a Igreja não pôde ainda prover de meios suficientes de salvação; os que nunca ouviram o anúncio da Igreja ou, pelo menos, não o recebem como “Evangelho”; ou, finalmente, os que são prejudicados pela divisão da Igreja.

Ao mesmo tempo a Congregação tem solicitude apostólica para com os fiéis atendidos pela pastoral ordinária, a fim de que, fortalecidos pela fé, se convertam continuamente a Deus e sejam testemunhas da fé na vida cotidiana.

4.      Entre os grupos humanos mais necessitados de auxílio espiritual atenderão de modo especial os pobres, mais fracos e oprimidos, cuja evangelização é sinal da obra messiânica (cf. Lc 4,18) e com os quais o Cristo mesmo quis, de certa maneira, identificar-se (cf. Mt 25,40).

5.      A preferência pelas condições de necessidade pastoral ou pela evangelização propriamente dita e a opção em favor dos pobres constituem a própria razão de ser da Congregação na Igreja e o distintivo de sua fidelidade à vocação recebida.

O mandato conferido à Congregação de evangelizar os pobres visa a libertação e a salvação da pessoa humana toda. Os membros da Congregação têm como incumbência o anúncio explícito do Evangelho e a solidariedade com os pobres, a promoção de seus direitos fundamentais na justiça e na liberdade, com o emprego dos meios que sejam, ao mesmo tempo, conformes ao Evangelho e eficazes.

Seção segunda

A OBRA DA EVANGELIZAÇÃO

Art. 1º — O Evangelho da salvação

6.      Obrigam-se todos os Redentoristas, seguindo sempre o magistério da Igreja, a serem, entre os homens, servos humildes e audazes do Evangelho de Cristo, Redentor e Senhor, princípio e modelo da nova humanidade.

Esse anúncio visa especialmente a copiosa redenção, isto é o amor de Deus Pai “que nos amou primeiro, e nos enviou seu Filho, como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo 4,10) e que pelo Espírito Santo vivifica a todos os que n’Ele crêem.

Essa redenção atinge o homem todo, aperfeiçoa e transfigura todos os valores humanos, para que todas as coisas sejam recapituladas em Cristo (cf. Ef 1,10; 1Cor 3,23) e conduzidas a seu fim: uma nova terra e um novo céu (cf. Ap 21,1).

Art. 2º — A evangelização

7.      Testemunhas do Evangelho da graça de Deus (cf. At 20,24), os Redentoristas proclamam, antes de tudo, a sublime vocação do homem e do gênero humano. Sabem que todos os homens são pecadores, mas sabem igualmente que esses mesmos homens já foram de um modo mais profundo escolhidos, salvos e reunidos em Cristo (cf. Rm 8,29ss.).

Empenhar-se-ão, pois, em ir ao encontro do Senhor onde Ele já está presente e atua com seu modo misterioso.

8.      Procurarão assiduamente discernir, conforme as circunstâncias, o que fazer ou o que dizer: se proclamar Cristo explicitamente ou, pelo menos, com o testemunho tácito de presença fraterna.

9.      Se as circunstâncias forem tais que alguma vez não haja possibilidade de propor, direta e imediatamente o Evangelho ou de anunciá-lo de modo pleno, devem os missionários, com paciência, prudência e grande confiança, dar testemunho da caridade de Cristo e, na medida do possível, fazer-se próximos de cada homem. Essa manifestação de caridade se fará pela oração, pelo sincero serviço prestado aos outros e pelo testemunho de vida, qualquer que seja sua modalidade.

Essa maneira de evangelizar prepara progressivamente os caminhos do Senhor e preenche a vocação missionária dos Redentoristas.

10.    O testemunho de vida e de caridade conduz ao testemunho da palavra (cf. Rm 10,17), conforme a possibilidade concreta e a capacidade pessoal. Os Redentoristas têm na Igreja, como sua principal missão, a proclamação explícita da palavra de Deus para a conversão fundamental.

Quando chegar a hora e o Senhor lhes abrir a porta da palavra (cf. Cl 4,3), os Redentoristas, sempre prontos a dar testemunho da esperança que neles existe (cf. 1Pd 3,15), completando o testemunho tácito da presença fraterna com o testemunho da Palavra, anunciam confiantes e constantes o Mistério de Cristo (cf. At 4,13.29.31).

Para que possam cooperar sempre mais plenamente na realização do mistério da redenção de Cristo, incansavelmente rogarão ao Espírito Santo, que é Senhor dos acontecimentos e é quem dá a palavra adequada e abre os corações.

Art. 3º — A finalidade da obra missionária

11.    Tendo recebido por graça o ministério da reconciliação (cf. 2Cor 5,18) os Redentoristas transmitem aos homens o anúncio da salvação e o “tempo favorável” (2Cor 6,2), para que se convertam e creiam no Evangelho (cf. Mc 1,15), vivam verdadeiramente o batismo e se revistam da nova criatura (cf. Ef 4,24).

Dessa forma os Redentoristas são “apóstolos da conversão”, pois sua pregação tem como finalidade principal levar os homens à opção radical ou à decisão de vida por Cristo e conduzi-los com vigor e, ao mesmo tempo, com suavidade à conversão plena e contínua.

12.    A conversão pessoal, porém, se realiza na comunidade eclesial. Por isso a finalidade de toda a obra missionária é suscitar e formar comunidades tais que levem vida digna da vocação a que foram chamadas, e exerçam a tríplice função que lhes foi atribuída pelo próprio Deus: sacerdotal, profética e régia.

Os missionários conduzem os convertidos a participar plenamente da Redenção que se exerce na Liturgia, principalmente no sacramento da reconciliação no qual, de modo sublime, anuncia-se e celebra-se o Evangelho da misericórdia de Deus em Cristo, e máxime na Eucaristia, pela qual se constrói a Igreja.

Dessa maneira torna-se a comunidade cristã sinal da presença de Deus no mundo. Alimentada pela Palavra de Deus dá testemunho de Cristo, passa sem cessar com Cristo ao Pai pelo mistério eucarístico, caminha na caridade e se inflama no espírito apostólico.

Seção terceira

O MODO DE REALIZAR A OBRA DA EVANGELIZAÇÃO

Art. 4º — O dinamismo na obra missionária

13.    No desempenho de sua missão procura a Congregação agir com iniciativas audazes e com grande zelo.

Chamada a cumprir fielmente, através dos tempos, a obra missionária, que lhe foi confiada por Deus, evolui sempre na forma de exercê-la.

14.    Essa obra apostólica da Congregação se caracteriza mais pelo dinamismo missionário, isto é, pela evangelização propriamente dita e pelo serviço aos homens e aos grupos mais abandonados e pobres, em relação à Igreja e às condições humanas (cf. Const. 3-5), do que por certas formas de atividade.

15.    A missão da Congregação exige, pois, que os Redentoristas sejam livres e disponíveis, quer em relação aos grupos a serem evangelizados, quer em relação aos meios que servem para a missão de salvação.

Sendo sua obrigação sempre procurar novas iniciativas apostólicas sob a direção da legítima autoridade, não podem instalar-se em condições ou estruturas nas quais sua atuação já não seria missionária. Como pioneiros, descubram com perspicácia novos caminhos, através dos quais o Evangelho seja pregado a toda criatura (cf. Mc 16,15).

16.    Por isso é tida em grande estima a multiforme atividade, através da qual se expressou no decorrer do tempo o trabalho missionário dos Redentoristas de acordo com as necessidades das diversas regiões. No futuro será assumida na Congregação qualquer iniciativa que pareça convir a sua caridade pastoral.

17.    Julgar se determinadas prioridades já assumidas ou a serem assumidas pela (Vice) Província, estão ou não de acordo com a índole missionária da Congregação, compete ao Capítulo (vice) provincial, com o consentimento do Conselho geral.

É óbvio, portanto, que todos os Redentoristas, principalmente quando reunidos em Capítulos, devem avaliar periodicamente se os meios empregados para a evangelização no respectivo território correspondem às necessidades da Igreja e do mundo; se, e como, devem renovar-se os métodos apostólicos, de modo que sejam mantidos os meios válidos, corrigidos os que apresentem falhas e abandonados os inadequados.

Art. 5º — A cooperação na Igreja

18.    Em virtude da caridade pastoral, que lhes é específica, procurem as comunidades e todos os confrades harmonizar as próprias obras com as iniciativas da Igreja universal e da Igreja particular.

Pois a missão da Congregação na Igreja, sendo serviço de Cristo, deve ser inseparavelmente serviço da Igreja.

Embora, em razão do ministério em favor da Igreja universal, os Redentoristas, de acordo com os princípios da isenção, estejam sujeitos primariamente, inclusive em virtude do voto de obediência, ao poder do Sumo Pontífice, todavia no que se refere ao ministério particular na Igreja local, estão sujeitos também ao Ordinário local.

Por isso, para instaurar e promover a fraternidade apostólica, os Redentoristas tenham sempre em vista, ao mesmo tempo, a pastoral orgânica do território e o carisma da Congregação. Em espírito sincero de serviço e com generosa disponibilidade, integrem-se nas obras e estruturas missionárias da diocese ou da região nas quais trabalham, segundo as necessidades mais urgentes da Igreja e da época.

Art. 6º — O diálogo com o mundo

19.  Para desenvolverem uma obra missionária eficaz, além de cooperar com todos na Igreja, devem ter adequado conhecimento e experiência do mundo. Praticam, pois, no mundo, o diálogo missionário com toda a confiança.

Interpretem fraternalmente as angústias dos homens, para discernir nelas os verdadeiros sinais da presença e do desígnio de Deus.

Realmente, eles sabem que o mistério do homem e a verdade de sua vocação integral somente se desvendam verdadeiramente no Mistério do Verbo Encarnado. Desse modo tornam presente a obra da redenção em sua totalidade, ao darem testemunho de que aquele que segue a Cristo, homem perfeito, torna-se ele mesmo mais homem.

O Missionário Redentorista

20.    Fortes na fé, alegres na esperança, fervorosos na caridade, inflamados no zelo, humildes e sempre dados à oração, os Redentoristas, como homens apostólicos e genuínos discípulos de Santo Afonso, seguindo contentes a Cristo Salvador, participam de seu mistério e anunciam-no com evangélica simplicidade de vida e de linguagem, pela abnegação de si mesmos, pela disponibilidade constante para as coisas mais difíceis, a fim de levar aos homens a copiosa redenção.